A vida de Vera Lúcia Sobral de Oliveira, 66 anos é cheia de altos e baixos. Mas nada que fizesse com que ela desistisse. A ligação com Maricá se deu quando recebeu uma herança e foi em Maricá que ela conheceu o marido. Eles então compraram um terreno no bairro Boa Vistae em abril de 1981, eles vieram de vez para Maricá. ” Antes vinha para Maricá para acampar, não existia casa para alugar, só os próprios donos usavam para veraneio. Vendemos o terreno e alugamos algumas casas, até comprar a atual residência.
Aos 17 anos, lendo um jornal ela descobriu que queria fazer curso de modelo. Porém, o sonho de se tornar modelo durou apenas um mês. Vera conta que sofreu um acidente quando voltava de uma boate na Lagoa, Zona Sul do Rio de Janeiro e ficou entre a vida e a morte. ” Foi um período muito tenso da minha vida. Fiquei internada por mais de seis meses, sendo 30 dias em coma profundo”, disse.
Um fato inusitado aconteceu durante o período que esteve internada. Um dos médicos do Hospital Miguel Couto, onde Vera estava internada, disse aos familiares que ela não teria muito tempo de vida e que já deixaria o atestado de óbito, pois não sobreviveria mais de 24 horas. Sua mãe logo providenciou o enterro e comprou o caixão. “Minha mãe contou que estava um dia em casa e recebeu um telefonema do hospital, pedindo que ela comparecesse o mais rápido. Ela pensou logo que eu tinha morrido. Para surpresa dela, o médico disse que tive uma melhora no meu estado. Ela então foi na funerária devolver o caixão, porém o responsável não queria aceitar, dizendo que minha mãe era louca por ter comprado um caixão para a filha viva. Revoltada, minha mãe foi até a assistência social do hospital e fez a doação do caixão para quem precisasse. Fiquei conhecida como Verinha do Milagre”, contou.

Vera conta que o divisor de águas em sua vida, foi quando precisou passar por uma cirurgia e foi levada do Centro de Terapia Intensiva para a Ortopedia. Ao chegar lá, encontrou uma moça que estava deitada enrolada em um pano. “Uma enfermeira chegou para ela e deu os parabéns, pois naquele dia era seu aniversário. A moça então levantou o pano e mostrou uma das pernas amputadas. Aquilo me tocou profundamente.Agradeci a Deus por estar viva, com todos os membros, apesar de ainda precisar passar por algumas cirurgias”,comentou.
Ela ainda disse que ao voltar para casa, uma coisa ela não abria mão, todos os dias ao acordar, fazia a higiene pessoal, lavava o rosto, escovava os dentes, se maquiava e vivia com as unhas pintadas. Segundo ela, isso a ajudou ainda mais no tratamento.
Durante os dias de internação, ela ficou encantada com o trabalho realizado pela nutricionista do hospital e resolveu pesquisar como era o trabalho. Foi então que ela prestou o vestibular, cursou e se formou em Nutrição.
Quando tudo parecia caminhar para ter uma vida normal. Vera ficou viúva em 1997. O marido acabou morrendo de enfisema pulmonar. “Para minha sorte, recebi o apoio de muitos amigos. Estava com uma casa grande e trabalhando no Hospital de Cardiologia de Laranjeiras. Fiquei ainda um tempo morando em Maricá e trabalhando no Rio de Janeiro”, disse.

Em 2001, ela se aposentou e não tinha muito o que fazer. Foi então que começou a fazer curso de modelo em Copacabana.Foi nessa época que ela adotou o sobrenome Zicarelli em homenagem ao marido falecido. Desde 2007 é feito um calendário beneficente com as alunas do curso de modelo, além da realização de desfiles em Copacabana. ” A maioria das alunas passam a se sentir mais bonitas, elegantes e confiantes depois de frequentar os cursos. ara muitas, abriu-se um mercado de trabalho que antes discriminava essa turma. Hoje, muitas agências de publicidade e de modelos descobriram que modelos maduras são imprescindíveis. Afinal, é impossível desfilar roupas ou anunciar produtos de beleza voltados para mulheres com mais de 40 anos, com ninfetas de 15 anos”, comentou.
Como força, garra e bom humor Vera vive em Maricá, cidade que lhe acolheu.

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