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Marilá

#I

Estamos de volta com nossa vila de Marilá, que continua muito parecida com a de cá mas que, garantimos, qualquer semelhança não passa de mera coincidência. Em nossa última estória contamos um pouco sobre as mudanças que nossa vila passou nos ultimos tempos. Hoje revisitaremos um pouco do passado, lembrando de um acontecimento do início da cadeia de mudanças, da época feudal de Marilá.

Nessa época, os educandários publicos não iam bem. Não tinham estrutura adequada para as classes, seus docentes recebiam mal, os aprendizes não se interessavam pelas aulas. Um cenário que o leitor pode ate achar comum em quase todas as vilas, medievais ou não. Porém, nossa estória tem algo de diferente. Os docentes, cansados de esperar as melhorias caírem do céu, foram cobrar do alcaide melhores condições de ensinamento. Encontraram apoio entre os alunos, que também estavam insatisfeitos. Um dos alunos mais bagunceiros chamava QuasQuas, que viria a ser lider da revolução de anos depois.

Os professores, junto com QuasQuas e os outros alunos decidiram fazer uma manifestação. Um ato simbólico pra marcar a morte da educação. Organizaram um ato fúnebre, um enterro. Mas não enterraram qualquer um, enterraram simbólicamente o alcaide. E ainda tiveram o disparate de ir até o castelo da administração da vila com o caixão para conversar com o falecido. O mesmo enxotou os subversivos do paço municipal, botou todos pra correr e a situação dos educandários continuou a mesma.

Marilá é uma vila de caracteristicas medievais, mas que a cada dia, fica mais próxima de uma cidade daquelas que a gente ve em filmes de cavalaria. Uma Madri ou uma Paris do século XVI. Um bucólico burgo tropical, repleto de belezas naturais, com rios, cachoeiras, lagos e as mais belas praias. E também com seus problemas, como toda boa vila. A vizinha fofoqueira, o cunhado preguiçoso, o clérigo avarento. Conserva muitas semelhanças com a vila de Cá, mas não se engane. São apenas meras coincidências.

Marilá era um feudo, com direito a famílias centenárias que passavam de geração em geração o poder político e econômico. Tinha até seu proprio sistema de transporte, com a companhia Charretes Desamparus levando e trazendo as pessoas para os feudos vizinhos. A companhia era da família maiĺĺs poderosa da cidade, os verdadeiros senhores das terras locais, os Caetanus. Elem sempre indicavam os alcaides regentes, que governavam em seu nome.

Porém, há algum tempo surgiu uma liderança nas tabernas da cidade. Um jovem de língua grande e pouco respeito pelos poderosos, que juntou seguidores junto ao povo usando seu discurso subversivo de distribuição de riquezas e de poder popular. Seu nome era complicado. Woston, Wastinton. Nome de gringo. Era conhecido como QuasQuas. Dizem que era por que os poderosos riam das falas dele. Achavam que era maluco.

Mas seu discurso fazia sentido pro povo. Afinal, ele mesmo veio do povo. E cada vez mais gente começou a segui-lo. Até que em uma das eleições pro governo da vila, onde os Caetanus sempre indicavam o alcaide, QuasQuas juntou um grupo grande e ganhou no voto das famílias poderosas. Nesse momento começou a mudança em nossa pacata vila de Marilá.

Como toda digna vila medieval, Marilá criou sua própria moeda a Mumbulá. Porém, ela não servia pra encher os bolsos dos lordes marilaenses. Ela servia pra distribuir as riquezas dos cofres senhoriais, que a muito tempo tinham sido solapadas do povo. Também foi criada a companhia Charretes Vermelinhas, com as cores do estandarte da vila, que transporta as pessoas de graça, sem cobrar os pedágios absurdos que a Desamparus cobrava. Mas mais importante, foi que o povo passou a participar das decisões da vila. Marilá passou a ter um governo eleito por todos e que se preocupava com todos.

Marilá deixou de ser um feudo. Passou a ser uma república. No sentido original da palavra, em que a ré é publica. As coisas são de todos. E para isso, nem precisou de guilhotinas como os franceses fizeram algum tempo atrás. Nem de armas como os russos. Precisou apenas da vontade de seu povo. A liberté, igalité e fraternité não entraram no vocabulário, mas na mente das pessoas. Mas como toda vila real, os problemas não foram extintos.

Nas proximas edições contaremos mais sobre o passado e o presente de nossa querida vila. Nossa história vai continuar nos próximos Taberna de Marilá. Fique ligado. Em breve traremos mais notícias da vila de lá.

Texto por: Diego Zeidan

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