Festa de Nossa Senhora do Amparo

“A pé, a burro ou a cavalo, de carro ou trem de ferro,

não deixes de ir à Festa de Nossa Senhora do Amparo”:

Uma leitura a partir das páginas de jornais do século XIX

Equipe de Pesquisa:

Maria Penha de Andrade e Silva – Historiadora

Renata Gama – Arquiteta Urbanista

Renata Toledo Pereira – Mestre em Educação

Nossa Senhora do Amparo é a padroeira do município de Maricá e é conhecida por amparar e proteger a todos. A festa, em sua homenagem, é um evento realizado ao longo dos séculos pelos devotos de nossa cidade.

Durante o século XIX (1801 a 1900), a festa em louvor à Nossa Senhora do Amparo ocupava as páginas de jornais como O Paiz e O Fluminense, principalmente no período imperial brasileiro (1822 a 1889), convidando seus leitores a participarem da maior festa da Vila de Maricá. Nesta época, eram realizadas as Festas do Espírito Santo, no dia 14 de agosto, e a Festa da Padroeira, em 15 de agosto.

A programação da festa da padroeira era composta por leilão na véspera do dia da santa, novena, missa solene, procissão, Te-Deum (hino cristão), distribuição “de esmolas aos pobres” e fogos de artifício, que costumava ser lançado às 11 horas da noite, cujo show costumava ser conduzido pelo habilidoso fogueteiro Prata. De acordo com o jornal O Fluminense(n. 659, p. 3), no ano de 1882, por exemplo, a música foi de responsabilidade da Sociedade Esperançosa Harmonia Maricahense, dirigida pelo Professor e Maestro Domingos José Ferreira. O evento era caracterizado pela “tranquilidade e ordem”, com a existência de apenas quatro “praças”, denominados atualmente como guardas, responsáveis pela vigilância.

Para a organização da festa, havia a realização de uma eleição dos funcionários da Irmandade de Nossa Senhora do Amparo de Maricá para os cargos de juiz, 1º escrivão, 2º dito, tesoureiro, procurador e zelador. Foram eleitos, para os respectivos cargos, com a função de servir durantes os anos festivos de 1883 e 1884: José Antônio Soares Ribeiro (Barão de Inoã), Augusto Paulo Ferreira, Antônio José Cordeiro Júnior, João Felizardo de Araújo, Vicente Antônio da Silva e Carlos Augusto d´Alcântara, além de outras pessoas que ocupariam as funções de mesários, aias e zeladores (O Fluminense, 1883, n. 822, p. 4). Percebe-se a ocupação da elite na condução da festa popular da cidade, restando às mulheres as funções subalternas, como mesárias, aias e zeladoras

A Vila era enfeitada com arcos, bandeiras e iluminação especial. A tradicional festa recebia inúmeras famílias dos municípios vizinhos e contava com a participação da população. Em 1885, foi organizado um baile para a elite local e conta-se que uma sociedade particular de música tocou no coreto que existia no largo da Matriz, cujas adjacências ocorreu um leilão de prendas. Também eram realizadas atividades como equitação, circo de ginástica e banda de música (O Fluminense, 1885, n. 1.130, capa).

Em relação aos tradicionais leilões, as prendas, as joias e os anuais dos oficiais eram doados por devoção à Nossa Senhora do Amparo, promessas ou motivos diversos, podendo ser entregues à equipe administrativa da Irmandade ou a uma pessoa indicada nos municípios do Rio de Janeiro ou de Niterói.

O escrivão Eduardo Pereira Neves, que compunha a equipe administrativa da festa no ano de 1888, anunciou a programação no jornal, a fim de pedir o comparecimento dos “irmãos e devotos de Nossa Senhora do Amparo”. Esse anúncio era uma prática comum no século XIX, veiculado com antecedência, para convidar as pessoas para a festividade e indicando seus atrativos, bem como uma nota de agradecimento publicada no dia seguinte da comemoração, que contava detalhes do evento.

A Estrada de Ferro Maricá organizava viagens extras, dias antes da festa, de modo a facilitar o acesso aos festejos por parte dos fiéis e demais visitantes, inclusive, com trens partindo de Neves, localizado em São Gonçalo, diretamente para o destino. Nos jornais, anunciava-se que “a via férrea vai até poucos quilômetros da vila”, com o intuito de atrair as pessoas para a festa, “sempre simpáticas, atraentes, cheias de pompa e brilhantismo”, em uma localidade de beleza ímpar e pescado fresco. Era responsável por transportar políticos importantes da província do Rio de Janeiro, que aproveitavam a ocasião para visitarem Maricá (O Fluminense, 1889, n. 1.740, capa).

Durante o trajeto, um colunista do jornal O Fluminense alertava que “se alguma fagulha da possante máquina crestar [queimar] a blusa azul celeste da elegante leitora ou o costume de casimira clara do garboso cavalheiro, nada de tristezas e fiquem esses beijos de fogo aos tecidos caros como um recuerdo[recordação] da romaria à terra de peixe, da boa gente hospitaleira” (O Fluminense, 1896, N. 3.115, capa).

Portanto, podemos perceber como a Festa de Nossa Senhora do Amparo é uma prática cultural e tradicional da cidade de Maricá, realizada há séculos pelos seus devotos, fazendo parte da identidade do munícipe.
Fotos: acervo/ Maria Penha de Andrade e Silva

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